"desapalavrar as palavras na mente
desaparafusar as palavras d'agente
desprendê-las na letra e no papel
torná-las livres qual passarinho no céu"

13 de novembro de 2010

canibal de mim






















sombras resvalam em meu corpo
quando fecho meus olhos para
saborear um lampejo, uma idéia

e me pergunto, sem querer,
se acontecem ao acaso
ou se recrio este mundo
o qual almejo viver

subestimo minha dor.

dor alegre de parto
e me escondo de mim
mesmo logo em frente ao espelho

me encaro...como se não me conhecesse
e me vejo ali, reconhecido em mim,
como quem se vê pela primeira vez

tento me explicar a mim mesmo
"porque nasci" ou "por qual motivo ainda vivo"
mas todas as palavras
me fogem aos sustos e soluços,
às lágrimas que rolam
neste estranho momento em que me concebi

primeiramente me estranho
e agora me extraio

minuciosamente saboreio,
feito canibal de mim,
a própria vergonha
por ser o que não sou
e não aceitar o que tenho

- desculpe-me,
por mais que desejo ficar
necessito ir embora...

...exatamente: agora!



in foco: "O espelho" by Natércia Lobato Pinheiro

25 de agosto de 2010

palavrada II

penso em uma palavra
com as letras sobrepostas
tento ler de frente a elas
e vejo apenas um mísero borrão!

e subestimam tal palavra
que vai embasbacando nossa visão
vai estragando nosso tato
vai subindo, subindo...
nos matando…
…brilhando!

10 de julho de 2010

freedom

te tiro pra dançar
sem ao menos saber
e ritmando essa nossa música
nos encontramos
cada vez mais conscientes
da música que escolhemos pra dançar

te faço uma prece
quem nem é um juramento
muito menos uma promessa:
me deixe estar perto
mesmo quando estou longe
mesmo quando não lembrar de mim

não há necessidade de saber
os “porquês” disso tudo
devemos lembrar que
tato e sentimento
são coisas distintas
mas não vivem sós

teremos nossos dias
ou nem os teremos
viveremos nossos instantes
sem às vezes nem sabermos
de toda sua eternidade

mas tenho certeza que lembraremos
escutaremos de novo
falaremos o que é bom
mostraremos o que é ruim
viveremos a nossa realidade
mesmo sabendo que podemos voar!

12 de março de 2010

amores e lágrimas

menina-moça plantada n'água
de trança feita, cabelo em flor
anel no dedo, presente, pingente
folha, água e tudo mais quanto
pode dar o amor

peixinho sem ar aperta no peito
desata o nó que a garganta laçou
olhos de lágrima efeito de um feito
escorre pro mar uma árvore, uma nuvem
um raio de sol que desprende calor

e a flor no cabelo,
que abraça o vento,
me leva alçada por onde ele for
o anel no dedo, presente pingente,
aviva na mente uma idéia latente
de forma sem forma
de vida vivida
de amor desatado
de entrega no abraço
e o entrelaço dos dedos
numa pétala, num carinho, no espinho e na dor.