"desapalavrar as palavras na mente
desaparafusar as palavras d'agente
desprendê-las na letra e no papel
torná-las livres qual passarinho no céu"

13 de novembro de 2010

canibal de mim






















sombras resvalam em meu corpo
quando fecho meus olhos para
saborear um lampejo, uma idéia

e me pergunto, sem querer,
se acontecem ao acaso
ou se recrio este mundo
o qual almejo viver

subestimo minha dor.

dor alegre de parto
e me escondo de mim
mesmo logo em frente ao espelho

me encaro...como se não me conhecesse
e me vejo ali, reconhecido em mim,
como quem se vê pela primeira vez

tento me explicar a mim mesmo
"porque nasci" ou "por qual motivo ainda vivo"
mas todas as palavras
me fogem aos sustos e soluços,
às lágrimas que rolam
neste estranho momento em que me concebi

primeiramente me estranho
e agora me extraio

minuciosamente saboreio,
feito canibal de mim,
a própria vergonha
por ser o que não sou
e não aceitar o que tenho

- desculpe-me,
por mais que desejo ficar
necessito ir embora...

...exatamente: agora!



in foco: "O espelho" by Natércia Lobato Pinheiro

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